" ... Na grande praça da minha aldeia havia a farmácia, a oficina do relojoeiro, o comerciante de trapos, a mercearia, a igreja e a oficina do carpinteiro, de portas sempre abertas, e ainda, por debaixo do castanheiro, as belas e grandes carretas pintadas de azul-real...
E havia as bolas de nogueira do avô Nicolau, com que brincavam simultaneamente o gato da parteira, os garotos da praça, etc.
Havia ainda o bebedoiro onde os bois, os cavalos e os burros iam beber, a passos apressados antes do toque das Ave-marias, e depois regressavam a passos muito lentos após terem bebido, pesados de água e esfomeados de misteriosas aventuras...
E além de tudo isto havia centenas de outras coisas que se misturavam e confundiam na recordação.
Havia isso e depois houve as guerras...
Já não há farmacêutico na pequena praça da minha aldeia, nem carpinteiro, nem relojoeiro, nem parteira e as bolas de nogueira do avô Nicolau, foram substituídas pelas placas de cimento armado das pontes e calçadas.
Os animais já não vão ao bebedoiro, foram substituídos pelos tratores e pelos automóveis...
Acabaram as praçazinhas onde se reuniam as lojas; acabaram as estradas poeirentas, os cavalos presos ao longo das paredes. O pitoresco, destruído, adulterado, esboroado, desmantelado, apenas vive em certo lugar privilegiado as últimas horas de graça ..."
JM
E havia as bolas de nogueira do avô Nicolau, com que brincavam simultaneamente o gato da parteira, os garotos da praça, etc.
Havia ainda o bebedoiro onde os bois, os cavalos e os burros iam beber, a passos apressados antes do toque das Ave-marias, e depois regressavam a passos muito lentos após terem bebido, pesados de água e esfomeados de misteriosas aventuras...
E além de tudo isto havia centenas de outras coisas que se misturavam e confundiam na recordação.
Havia isso e depois houve as guerras...
Já não há farmacêutico na pequena praça da minha aldeia, nem carpinteiro, nem relojoeiro, nem parteira e as bolas de nogueira do avô Nicolau, foram substituídas pelas placas de cimento armado das pontes e calçadas.
Os animais já não vão ao bebedoiro, foram substituídos pelos tratores e pelos automóveis...
Acabaram as praçazinhas onde se reuniam as lojas; acabaram as estradas poeirentas, os cavalos presos ao longo das paredes. O pitoresco, destruído, adulterado, esboroado, desmantelado, apenas vive em certo lugar privilegiado as últimas horas de graça ..."
JM
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